quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um desconhecido Zé

Zé Rodrix & Calazans
camarada zé edu escreve sobre um zé rodrix que ningúem falou



.txt convidou o camarada José Eduardo Camargo, jornalista e ativista de um grupo chamado Clube Caiubi de Compositores, que formou uma rede social muito antes disso virar moda. Pude testemunhar pessoalmente um pouquinho dos encontros desse grupo e lá soubre que Zé Rodrix estava totalmente envolvido.
Logo, ninguém melhor do que José Eduardo Camargo, o Zé Edu, para contar que Zé Rodrix morreu tão na ativa quanto sempre.
Sendo Zé Edu um ídolo meu, é uma honra publicar a .txtdermia a seguir:

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Um desconhecido Zé


O Zé Rodrix que morreu na tevê e nos jornais não é o que conheci. Nas reportagens, a vida acabou mais cedo pra ele. Alguns o mataram em 1972, logo após a gravação de Casa no Campo pela Elis Regina. Outros o mantiveram vivo até a época do Joelho de Porco. Aqui e ali, uma pílula sobre a carreira-solo dos anos 70, ou um pitaco sobre o trabalho na Voz do Brasil. Poucos o viram respirando na volta do trio Sá, Rodrix e Guarabyra, no Rock’n’Rio de 2001. Disso em diante, silêncio. Como se nos últimos anos ele houvesse vivido recluso entre livros, discos e só.
Mas, meninos e meninas, tem mais. O Zé de quem me tornei amigo fez tudo isso aí do parágrafo de cima, sim. Só que o epílogo – esquecido por quase todos – foi um dos capítulos mais bonitos da sua biografia. Ele começa no fim do século 20, com o Zé arrasado, numa fossa abissal, após a morte de Tico Terpins, seu sócio na agência Voz do Brasil. Desencantado da vida, da música e da propaganda, não necessariamente nessa ordem. O primeiro túnel nesse fim de luz foi a literatura. Em 1999, Zé lançou o romance Diário de Um Construtor do Templo. O surgimento da maçonaria era o pano de fundo, mas resumir o livro a isso seria limitá-lo demais. E limitar também o escritor, que nos últimos dez anos publicou mais dois volumes, completando a chamada Trilogia do Templo (os outros dois: Zorobabel e Esquin de Floyrac). A volta à música (e à vida) se deu no retorno do trio. Com os camaradas Sá e Guarabyra, irmãos de fé. Disco e DVD lançados, caíram na estrada, percorrendo o Brasil.
A composição de jingles também voltou, assim como a energia para dedicar-se à maçonaria. Nesse meio tempo, Zé tornou-se ainda um polemista famoso, principalmente na internet, defendendo teses na contramão do establishment da classe artística. Como o repúdio ao jabá e ao financiamento público de discos e livros.
Além de retornar ao palco com o trio, Zé Rodrix retomou a carreira de compositor. Isso eu pude acompanhar de perto. Generoso, angariou parceiros musicais na internet (em listas de discussão como a M-Música) e resgatou antigas parcerias. Entre elas, a de Tavito, autor com ele de Casa no Campo e velho camarada dos tempos de Som Imaginário. Dessa safra saíram pérolas como Onde os Anjos Não Ousam Pisar (parceria com Etel Frota), gravada por Nasi. E canções que ainda virão à luz, em discos de outros artistas. A generosidade dele também estendeu-se à obra alheia. Em 2003, Zé conheceu o Clube Caiubi de Compositores – um grupo de absolutos desconhecidos que se reunia em um boteco das Perdizes. Com conselhos aqui, parcerias ali e incentivos acolá, ele ajudou a levar para a frente um projeto que hoje reúne quase quatro mil artistas independentes (clubecaiubi.ning.com) no Brasil e no exterior.
Como todo gênio (e eu não tenho medo de usar o adjetivo), Zé Rodrix era um permanente work in progress. Não descansava. Escrevia o fim de seu quarto romance (que ele chamava de O Cozinheiro do Rei) e preparava o lançamento de mais um disco de músicas inéditas do trio Sá, Rodrix & Guarabyra – que deve sair em breve. Havia montado um show solo com uma big band de jazz, que teve apenas três apresentações, no ano passado. E produzia a própria filha, Bárbara Rodrix, também (excelente) compositora. Nada disso saiu nos jornais, nem passou na tevê. Mas, quem não viu, ouvirá.
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http:///www.mtv.com.br
Foto: Guarabyra

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