sábado, 17 de outubro de 2009

Filha de Zé Rodrix e atriz de musicais, Marya Bravo canta suas próprias dores de amor no CD de estreia



"Água demais por ti"

Filha de Lizzie Bravo - a fã de apenas 16 anos que foi para Londres tentar algum contato com os Beatles e, após virar noites em frente à gravadora, acabou participando, em 1968, do coro na faixa "Across the universe", do clássico disco "Abbey Road" - com o papa do rock rural, Zé Rodrix, Marya Bravo ganhou seu primeiro cachê como cantora quando tinha apenas 4 anos. Era a voz da menininha do comercial de Cremogema que povoa a mente de toda uma geração. Mas a criança que esquecia a bola e a boneca quando sentia o cheiro do mingau só não abandonou a sua vocação para cantar. Voz presente em dezenas de musicais, ex-backing vocal de Marisa Monte, ela agora lança seu primeiro CD, "Água demais por ti", que será lançado no dia 28, no Cinemathèque.

O disco, que traz a alma roqueira de Marya, traz letras da artista de um momento de ruptura, de separação, que acabou conceituando o trabalho desde a arte do disco - na capa ela aparece como uma rainha decadente. Mas Marya vive um momento completamente diferente e, ao contrário do que possa parecer em suas canções, é uma figura para lá de alegre.

- As minhas músicas autorais têm essa temática de relacionamentos frustrados, da agonia dos amores mal resolvidos. E eu acabei montando o repertório seguindo isso. A "Imitação da vida", do (sambista baiano) Batatinha, foi o Mauro Diniz, com quem trabalhei na turnê de "Memórias, crônicas e declarações de amor", quem me mostrou. "Pra você gostar de mim", do Vital Farias, me foi apresentada pelo pai do Nobru, guitarrista que toca comigo - conta Marya, que gravou músicas de seus contemporâneos, como "Clássica", da banda Benflos, e "Relacionamento saudável", da Rockz. - Essa foi a última a entrar no disco e reflete o ótimo momento que vivo.

Marya Bravo não nega a influência de seu pai e sua mãe em seu trabalho.

- Cresci morando com a minha mãe, que até hoje ouve música o tempo inteiro. Então me aplicou Ney Matogrosso, Secos & Molhados, Mutantes, que frequentavam nossa casa. E a regravação de "Fala", do Secos, é uma homenagem dupla, pois meu pai fez o arranjo e tocou sintetizador na faixa. Também escuto muito os primeiros discos dele, os do Som Imaginário, e sinto que o meu disco puxa para esta época, para os anos 70. Isso fica com a gente, por mais que ouçamos outras coisas. E eu ouço de tudo.

A homenagem ao pai, que morreu em maio deste ano, traz uma ponta de tristeza:

- O falecimento dele me deixou muito triste. Era um torcedor. Não tinha contado para ele que o disco estava saindo porque queria fazer uma surpresa.

Marya Bravo não fez apenas o comercial de Cremogema quando criança. Como a mãe fez muitos jingles, ela era sempre solicitada quando precisavam de uma voz infantil. Mas a profissionalização começou mesmo quando ela se mudou para Nova York com a mãe. Paralelamente aos estudos formais, ela, que sempre sonhou em ser atriz, entrou para uma escola profissionalizante de teatro musical, onde juntou suas duas vocações: o canto e o trabalho de atriz.

- Fiz muitos trabalhos nos Estados Unidos e na Europa, até que um dia vim para cá de férias e fiz um teste para um musical. Não parei mais e fiquei por aqui.

Desde a sua volta, ela participou de espetáculos como "Cristal Bacharach", "Lado a lado com Sondheim", "7", foi Ângela Maria em "Cauby! Cauby!" e, para alegria da mãe, integrou o elenco de "Beatles num céu de diamantes".

O disco de Marya começou a ser pensado há nove anos, desde que foi trabalhar com Marisa Monte.

- Ali comecei a tocar violão e me interessei por esse meio, pelo qual eu não tinha navegado. Recebi muito apoio do Mauro Diniz, do Dadi e da Marisa, que sempre foi muito generosa. Em 2004 surgiu a oportunidade de um show, e, na hora de montar a banda, resolvi chamar pessoas de meios diferentes. O Carlos Trilha, eu conhecia da Marisa, o Cesinha era o baterista dos shows em que cantei com o Davi Moraes, e o guitarrista Nobru Pederneiras, que é meu cunhado, trouxe o Daniel, o baixista.

O resultado ficou tão satisfatório que a banda é a que toca no disco, por sinal, sem participações.

- Resolvemos que faríamos tudo no nosso tempo, e funcionou. Muitas vezes nos encontrávamos aos sábados e falávamos de música. O resultado, eu nem sei definir. Virou um rock melódico meio pesado.

Mas Marya, depois desse processo, se sente mais atriz ou cantora?

- Sou uma atriz de musical. Nunca fiz outra coisa e é difícil definir. Adoro interpretar canções no teatro, adoro ser dirigida e cantar como uma personagem. Mas cantar músicas minhas, extremamente pessoais, é muito forte. E essa minha formação dá um caldo nessa história.

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/10/16/filha-de-ze-rodrix-atriz-de-musicais-marya-bravo-canta-suas-proprias-dores-de-amor-no-cd-de-estreia-768084054.asp